Conteúdo giro180.

Economia Prateada: a oportunidade escondida à vista de todos

12 de julho de 2021

Idosa faz compras no shopping simbolizando a Economia Prateada

Precisamos falar sobre a Economia Prateada. A população mundial tem se modificado de maneira inimaginável e a um ritmo mais rápido do que qualquer outro na história. Globalmente, espera-se que o número de pessoas com 60 anos mais chegue a cerca de 2,1 bilhões até 2050, correspondendo a 20% da população mundial, uma vez que este grupo está crescendo mais rápido do que todas as outras faixas etárias.

Esse processo de envelhecimento da sociedade deve-se, em grande parte ao aumento da expectativa de vida, que se iniciou a partir da década de 70. Além disso, as reduzidas taxas de fertilidade, tanto de países desenvolvidos, como de algumas economias, determinaram uma escassez de trabalhadores e consumidores mais jovens. Do ponto de vista econômico, esta mudança de perfil demográfico está criando a chamada economia “prateada” envolvendo uma nova e poderosa classe de consumidores. O envelhecimento populacional gerou importantes conceitos, como “Longevity Economy” (Economia de Longevidade) e “Silver Economy” (Economia Prateada), termos que coexistem e que são praticamente sinônimos oriundos do impacto no consumo dos 50+.

A maior expectativa de vida traz como consequência a necessidade de uma melhor qualidade de vida e saúde para todos os cidadãos. Este fato, nos torna responsáveis e nos convida a construir uma nova visão do futuro na qual a velhice não será deficiência social, nem fator de exclusão. De acordo com o Chanceler Gérard-François Dumont, professor da Universidade Paris-Sorbonne, grande parte das pessoas no mundo chegará aos 70 anos, idade considerada no passado como extraordinária.

Economia Prateada: idoso se exercitando
Crédito: iso.org/news

A forma da clássica “pirâmide populacional” mostrando um grande número de jovens na parte inferior com alguns idosos no topo vem mudando rapidamente ao longo dos anos. A maioria dos acadêmicos concorda que uma população envelhecida reduz a taxa de crescimento estrutural de longo prazo de uma economia, citando o Japão como um exemplo real desse fenômeno. E, embora a demografia seja sem dúvida, influência importante e duradoura nas economias mundiais, levantando a claros desafios a longo prazo, ela também pode gerar grandes oportunidades.

O futuro dos Boomers

Uma mudança histórica está transformando o envelhecimento global em desenvolvimento positivo, mas questões importantes ainda permanecem. Quais as necessidades e expectativas dos idosos em relação aos diferentes tipos de produtos e serviços? O que levar em conta quanto à necessidade das pessoas mais velhas? Como estes padrões irão evoluir em resposta às tendências emergentes dessas novas faixas etárias?

Nenhum país estará imune aos efeitos do envelhecimento populacional. Para sobreviver a este processo, as empresas precisarão abraçar a curva demográfica e vislumbrar o mercado inexplorado de idosos. Esse mercado garantirá prosperidade e longevidade aos novos negócios, alimentará todo um novo conjunto de produtos e serviços, assim como estimulará um ciclo virtuoso e contínua inovação.

LEIA TAMBÉM: Um novo modo de pensar: serviço para o varejo

A nova classe de consumo

Em 1999, o Comitê de Política do Consumidor da ISO (ISO/COPOLCO) realizou um workshop sobre envelhecimento populacional destacando a mudança da demografia global e previu que até o ano de 2025, uma em cada quatro pessoas nos países desenvolvidos teria mais de 60 anos e que os países em desenvolvimento também seriam impactados. Concluiu que abordar questões relacionadas à qualidade de vida, independência, saúde e segurança seriam fundamentais para que os países pudessem desenvolver a infraestrutura necessária para apoiar uma sociedade envelhecida, incluindo o impacto econômico.

Crédito: iso.org/news

Há muitos anos, a Consumers International vem trabalhando em conjunto com a parceira europeia ANEC, na busca pela implementação de normas que tornem os produtos e serviços seguros e acessíveis a todos os consumidores, independentemente de sua faixa etária ou capacidade. “É aqui que os padrões ISO podem desempenhar um papel importante”, diz Sadie Homer, representante da Consumers International. “Precisamos garantir que todas as partes interessadas sejam ouvidas no processo de desenvolvimento de protocolos que as empresas possam seguir para fornecer produtos e serviços, que atendam as necessidades de todos os consumidores.”

Fazendo um balanço da situação, a ISO, a Comissão Eletrotécnica Internacional (CEI) e a União Internacional de Telecomunicações (UI) vem unindo forças em uma política comum de acessibilidade e formalizado seu compromisso de garantir que todas as normas futuras contribuam para a disponibilização de produtos, serviços e ambientes acessíveis a todos.

Mudança de paradigma

Com o envelhecimento demográfico, uma mudança de paradigma está ocorrendo. Passamos do desejo de “viver o maior tempo possível” para “viver o maior tempo possível com qualidade e boa saúde”, para poder fazer atividades, viver experiências e continuar com o lazer.

Apesar de sabermos que as pessoas mais velhas com algum nível de incapacidade ou deficiência estão claramente entre os grupos mais vulneráveis, devemos lembrar que essas mesmas vulnerabilidades podem ser vivenciadas por outras pessoas na sociedade, em qualquer faixa etária.

De agora em diante, protocolos e orientações desenvolvidos não só protegerão consumidores como ajudarão empresas a prosperar, explica Homer. “Com uma proporção crescente do mercado global sendo composta por consumidores mais velhos, as empresas precisam estar confiantes de que os protocolos utilizados estão considerando e incorporando as necessidades de todos os consumidores com o fim de oferecer níveis consistentes de serviço a todos os seus clientes”, diz ela. 

Criando novos mercados

O Fórum Econômico Mundial, produziu um relatório intitulado “Como a longevidade do século 21 pode criar mercados e impulsionar o crescimento econômico”, norteando empresas, grandes e pequenas, a começarem a utilizar o envelhecimento como lente para seus planos estratégicos futuros. “Como tal, o envelhecimento se torna uma oportunidade comercial que alimenta as linhas de cima e de baixo, incentiva mudanças no local e na força de trabalho, pode impulsionar a produtividade, além de fornecer apoio por meio de valores compartilhados e parcerias sustentáveis com governo e sociedade civil.”

Infelizmente, muitas empresas ainda não entenderam esta mensagem e não estão se preparando para esta nova onda de consumidores. Hoje, tanto “baby boomers” quanto idosos estão mais ricos e saudáveis. Em contraste com a geração que chegou à maioridade durante a Segunda Guerra Mundial, os “baby boomers”, que agora entram em idade de aposentadoria, experimentaram empregos estáveis e de longo prazo. Crucialmente, seu poder de gasto é maior.

Os desafios da longevidade, com um mercado crescente voltado aos idosos e a população marcada pelas desigualdades.

Com relação ao Brasil, Kalache afirma que a população tem vivido mais, porém com menos saúde. E traz ainda a perspectiva de que o conceito de economia prateada pode se encontrar distorcido no Brasil, assim como em outros países do mundo. Embora haja uma clara demanda por serviços a idosos no Brasil, projetos nesta área poderão estar prejudicados por conta da grande desigualdade social.

Também apontou para o fato de que uma substancial fatia do Produto Interno Bruto (PIB) está nas mãos de poucas pessoas com mais de 50 anos, ao lado de milhões que não têm o mínimo para viver. O Brasil é um país que envelhece e rápido. Estima-se que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2050 cerca de um terço da população terá 60 anos ou mais. O envelhecimento populacional foi identificado pela ONU como uma das quatro megatendências para o século, e as projeções indicam que o Brasil será em 2050, o sexto país com o maior número de pessoas acima de 60 anos no mundo. Neste cenário desafiador, também surge a oportunidade de um mercado voltado aos que envelhecem, uma vez que os idosos não só vivem mais, como também consomem mais. 

Ao ler este artigo, alguma empresa com sucesso nestes conceitos vem à sua mente?

De acordo com o NÚCLEO 60+ consórcio das consultorias Atíven, Raízes e Seniorlab, especializadas no tema da longevidade e com foco em negócios, inovação, produtos e serviços, foi identificado por meio de pesquisa com abrangência nacional, Bússola 60+, realizada em setembro e outubro de 2020, incluindo um total de 1.464 entrevistados, o resultado a seguir. A amostra principal contou com 805 entrevistas, e o controle, com as faixas etárias entre 30-59 anos, com 659 entrevistas (intervalo de confiança de 95% e margem de erro de 3.50 e 3.80 para amostra principal e controle, respectivamente). No modelo híbrido de coleta de dados foram utilizadas entrevistas por meio de questionários quantitativos on-line e entrevistas por telefone – Homens e Mulheres – Classes ABCDE.

É importante notar que, que nesta pesquisa, não foram observadas as marcas “top of mind” exclusivas nas respostas da faixa dos 60+.

Interface gráfica do usuário, Aplicativo

Descrição gerada automaticamente

Curiosamente, dentre as marcas lembradas neste grupo encontramos marcas mais antigas e tradicionais, principalmente em alimentos e bebidas. 

Logotipo, nome da empresa

Descrição gerada automaticamente

Há muitos pontos importantes e relevantes quando falamos da “economia da longevidade”. Este fato traz a necessidade de uma nova reflexão e de que revisitemos alguns conceitos básicos organizacionais. Esta, sem dúvida, deve ser uma pauta importante para conselhos de empresas e seus planos estratégicos. Tudo indica, que é neste oceano azul da longevidade aonde estará parte das grandes oportunidades de negócios futuros.

Neste sentido, todo o governo, sociedade civil, setor privado necessitarão estar atentos, com o fim de conduzir ações colaborativas de forma organizada, que venham a valorizar a qualidade de vida nas faixas etárias de maior longevidade.

Isso nos levará a novas perspectivas da chamada “economia prateada”, mercado de bens e serviços para pessoas com 65 anos ou mais. Este “outro lado da moeda” da população envelhecida e ativa, oferecerá a muitas indústrias, oportunidades para atingir toda uma nova base de clientes.

REFERÊNCIAS
ATIVEN: https://www.ativen.com.br/
AGING2.0: https://www.aging2.com/sao-paulo/
Older Agency Limited: https://www.olderagency.com/
ISO: org/wiki/Organização_Internacional_de_Normalização
GAT: http://www.globalagingtimes.com/aging/privacy-policy
Dr. Alexandre Kalache (Médico e Gerontólogo, presidente do ILC Brasil)

Autor: Silaine Benzobas
CEO da Veraziones e Retail Thinker da varejo180